Em 3 de janeiro de 2017 por Renan Menicucci
Daqui uns anos, eu juro, nós iremos nos encontrar. O encontro não será nada romântico e nada hollywoodiano. Não haverá glória nenhuma quando a vida, em sua extrema zoeira, juntar num mesmo caminho o que ela fez questão de separar em outro.
Nossos carrinhos irão se esbarrar na seção de cosméticos do supermercado. Você irá procurar o rosto da pessoa para pedir desculpas por ser tão estabanada, mas quando vir que o rosto sou eu, irá perder as palavras.
Dirá “Oi…” e eu responderei outro “Oi. Quanto tempo?”.
Nos perguntaremos como nós estamos para saber o que aconteceu depois da bifurcação do parágrafo. Você dirá que casou, trabalha com arte e que teve dois meninos. E, talvez, um deles estará abraçado a sua perna. “A cara do pai!”. Direi sem novos ressentimentos. Apenas aqueles velhos… Eu, por azar, direi que não casei e tampouco filhos me consomem: não os tive. Ou isso, ou mentirei. Porém, você perceberá que meu carrinho só terá enlatados e pré-assados: coisas que só solteiro entende. Você verá, então, que meus livros não estarão estourados. Somente empoeirados.
“Nossa, como ela está linda!”, pensarei comigo. “Como ele engordou…”, você pensará.
O silêncio irá tomar conta do nosso encontro e para quebra-lo você dirá que o shampoo Y está caríssimo e que o X está barato, porém ele resseca o seu cabelo.
“Impressionante! Ela ainda sabe que pode comentar essas coisas comigo!”. Eu pensarei mais uma vez, e, por somente pensar, o silêncio voltará nos abraçar. Mas ele não me incomoda… Ficaria ali, pairando no vácuo e ao seu lado, pelo resto do dia, do mês, do ano e até mesmo da minha fracassada vida. Mas você não se contenta com pouco. Nunca se contentou e por isso dirá um “ATÉ MAIS. FOI UM PRAZER EM REVÊ-LO”. Eu assentirei com a cabeça e com um sorriso pra lá de obrigatório. Virarei na direção oposta com meu carrinho cheio de enlatados e não comprarei uma pasta de dente que seja o bastante para um casal.