Em 1 de outubro de 2015 por Rafael Fava Belúzio
Um antigo projeto de reunir e dialogar com todos os cronistas foi ficando, progressivamente, impossível. Virou choro. Como um projeto de Ser, mas encarado por um devir. Não há como montar todas as peças do quebra-cabeça infinito, ou juntar todos os livros nas prateleiras da minha bibliotequinha, ou… Sinto em mim um colecionador, sentado no banquinho de madeira, contemplando, preguiçosamente, sua tarefa impraticável.
O álbum de figurinhas com mais páginas do que os segundos de minha vida. A estante vazia estendida até a linha vazia do horizonte. A memória apagando, sem haver desejo meu, cenas e cenas do cotidiano. Toda Ilíada será sempre metonímica. Todo arquivo terá sempre um lixo ao lado.
Chorinho; lamento, noturno… Aceitar a anticondição divina. Difícil para um escritor, aquele que inventa mundos para ser Deus de papel, notar a margem da página…
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Tanto cronista fica de fora… até mesmo partes de mim ficam de fora do eu-de-papel. Porque escrever é também arquivar a vida – mesmo que a vida arquivada não seja de sangue e ar.
Faxinar a memória, a m mor ia, a em or a, a m a, m l, . Faxinar e criar adornos, pintar, acrescentar perfumes, que depois serão mais memória do que a memória.
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A poesia universal progressiva está morta – e talvez por isso ela comece.