Em 15 de agosto de 2015 por Rafael Fava Belúzio
Gosto de usar tênis sujo. Não é qualquer sujeira também. Tem que ser aquela crostinha blasé acumulada ao longo do tempo.
Por dentro não, por dentro prefiro meu tênis sujo limpo. Troco a meia cada vez que uso, lavo a palmilha. Quando eu estiver por perto, nem precisa temer o chulé. Mas por fora quero meu tênis sujo. Parecido com os calçados do disco do Lô Borges ou com os usados por Kurt Cobain.
São vários os motivos para usar os tênis assim. Vão da causa justa à bermuda larga.
Porque evito usar marcas nas roupas. Não quero fazer de mim homem-anúncio itinerante. Nem ser a coisa, coisamente. Mas camisa e calça sem marca estampada são mais fáceis de encontrar do que tênis assim. Por isso eu aceito a marca, mas a deixo suja. É meu pequeno gesto. É minha vingança ao rés-do-pé.
É também um gesto estético. No fim das contas, acabei gostando de ver um tênis maltrapilho. Forrest Gump já contava uma história sobre os calçados dizerem a respeito das pessoas – de onde vem e para onde vão, quem são e o que gostam. E como eu não ando meio desligado a ponto de não sentir meus pés no chão, meu calçado fica mesmo sujo. É tênis de cronista.