Em 1 de dezembro de 2014 por Rafael Fava Belúzio
Para alguém mais acostumado a resenhar poemas e prosas, não é tarefa das fáceis a resenha de um fotolivro mais ligado à tradição das artes visuais. Mas a ideia é antiga. Desde quando conheci a obra de Camila Monteiro de Lima, carrego a vontade de falar um pouco a respeito. Arriscava uma frase daqui, amontoava umas informações dali. E aos poucos ia ganhando corpo este texto sobre o fotolivro Carangola.
Para situar o leitor, as fotos que compõem a obra em questão foram tiradas ao longo de 2007 e, principalmente, 2008. Lançadas em livro, também em 2008, a maior vendagem ocorreu nos dois anos seguintes, embora a tiragem tenha sido bastante limitada, cerca de 25 exemplares. Contudo os livros ficaram expostos no Estúdio Menina dos Olhos e as fotos caíram na Internet, de modo que entraram no imaginário da cidade. Eu mesmo as conheci em 2009, possivelmente. Já reconhecia, desde então, um raro trabalho imagético autoral a respeito de Carangola.
Continuando. As datas acima são proporcionais ao retorno da artista para sua cidade natal. Camila Lima havia se mudado de Carangola para concluir o ensino Médio e cursar Artes na Escola Guignard, da UEMG. Finito o curso na capital, havia para a fotógrafa certa dificuldade no retorno ao interior, adaptação nem sempre fácil. Para ajudar nesse processo, resolveu reeducar seu olhar. Produzir imagens de Carangola. São essas criações que compõem o fotolivro.
Quanto aos dados materiais da obra, ela possui quase cinquenta páginas de papel couché 170/m², em tamanho A5, constando edições encadernadas com wire-o e algumas em formato brochura. A maioria das fotos foram tiradas com câmera Nikon d40x, lente 18-55. Para as outras, foi utilizada uma câmera Sony compacta.
Essas câmeras e lentes apresentam cenas muito interessantes da cidade. Quem vai abrindo o livro logo fica com a sensação de estar chegando na Princesinha da Mata. A capa apresenta o letreiro “Carangola”, da rodoviária. Um ônibus está mais ao fundo. Em seguida, uma foto com um fragmento do hino carangolense e depois duas panorâmicas, como o olhar de quem está, ainda na rodovia e pouco antes de chegar na cidade, já avistando o que lhe espera.
A partir de então, começam fotos da entrada da Carangola, espaços mais rurais. Nessa sequência de imagens, o posicionamento da câmera lembra a visão comum de uma pessoa em pé. São landscapes e casinhas abandonadas pelos moradores das roças. Depois há uma chegada no trecho urbano de Carangola. Quatro fotos dando novamente impressão de chegada. Em seguida, recortes de espaços religiosos; ambientes da Praça da Matriz; fachadas de casas e prédios, muitas delas são do final da República Velha. A seguir aparecem as escolas. Detalhes cotidianos. O pontilhão de ferro. Os clubes. E mais cenas do correr dos dias.
Esse correr da câmera foi expresso a cores, prevalecendo tons de vermelho, marrom e verde, uma mistura que dimensiona muito bem a paleta de Camila Lima, especialmente na ocasião do trabalho, e a da paisagem rural e urbana de Carangola. Dimensiona ainda uma preferência pelo diurno, a cidade vista em horários mais claros. Alguns tons de azul, acrescido às outras tonalidades, indicam a recusa da fotografia noturna ou sombria. Bem como a preferência por lugares abertos, fachadas, no lugar dos interiores. Até chegam a compor o livro algumas cenas da parte de dentro de igrejas, mas o exterior se sobressai.
Sobressaem também alguns os poucos personagens humanos, especialmente ligados ao Largo do Rosário. Os religiosos leigos na capela de Nossa Senhora do Rosário, a pianista Terena Marques fazendo pose, o Sr. Célio Abdo atrás do balcão de seu bar tradicional. Entretanto, é a arquitetura e o espaço público o que mais caracteriza o recorte imagético de Carangola.
Flanando assim pelas fotos, temos um bom apanhado geral da cidade. Do educacional ao religioso, do urbano ao rural, da novidade ao passado presente. O futuro, esse sim, será um privilegiado se puder ver a Carangola de hoje através dos recortes de Camila Monteiro de Lima.