NOTÍCIAS CARANGOLICES QUEM SOMOS CONTATO
  • Foto: Meninas dos Olhos
  • Foto: Menina dos Olhos
  • Foto: Menina dos Olhos

Crônicas

O GRANDE TALVEZ – Renan Menicucci

Em 6 de outubro de 2014 por Renan Menicucci

De todas as coisas que eu poderia falar na crônica desta quinzena, resolvi falar da saudade. Não da saudade de um amor, de um amigo ou um momento. É a saudade como realmente ela é. Livre de pessoas passageiras e repleta de pessoas carangoladas.

Cheguei a mandar para Jana uma crônica antes desta. Falava de medo e, particularmente, não gostei muito. Mostrei para poucas pessoas. Somente para a Milena talvez. Disse ela que a crônica estava boa, mas não me convenceu… Pensei de imediato na indiferença do Rafael (Sim, meu pai-literário) ao ler a crônica que tão pessimamente escrevi. E, hoje, quando olhava minha imagem refletida no espelho, me preparando para um banho, me afoguei em copo de Carangola. Não… Eu não escrevi errado. É um copo de Carangola mesmo, não um de coca-cola. E assim, entro em um turbilhão de memórias que agora vou relatar.

O banheiro da minha casa é azul. Os azulejos azulados entregam a antiguidade desta casa que agora moro, na gema de Carangola: o Largo do Rosário. Aqui tem o Célio, a tia Ceni, Agda, Eufrásia, Terena, ÂNGELA, tinha a Benedita e outras mais figuras peculiares deste bairro antiquíssimo da minha cidade.

O fundo do Jardim de Infância dá para minha casa, e os fundos da minha casa dá-se para os lados da capela Nossa Senhora do Rosário.

O coral da missa cantava a famosa música “Nossa Senhora”, do Padre Marcelo Rossi, enquanto eu me encarava frente ao espelho, passando leite de colônia na pele repleta de espinhas.

A junção destes dois fatores (o coral da missa e o cheiro de Leite de Colônia) me fez voltar a alguns anos atrás da minha vida, quando as escadarias da igreja eram realmente imensas. (Abro estes parênteses para dizer que há duas fases na vida onde as escadarias da Capela ficam realmente imensas: a infância e a velhice (No Largo do Rosário só existem crianças e velho. (Avós e netos)).)

Uma nostalgia infinita tomou conta de mim e o que era espelho virou televisão que reproduziu as auroras de minha infância.

Como não ver minha bisa protagonizando este filme? Outrossim, o coral que ela acompanhava de voz baixa e o cheiro de Leite de Colônia que ela tinha, não dificultam as lembranças vindas neste momento. Era uma das características dela…

Enquanto passava pelo grande talvez da minha vida, deixei de devocionar à mãe de Cristo, e tenho certeza que isto seria uma grande tristeza para minha bisa. Mas não tem como me recriminar se ela foi embora e me deixou aqui, passando pelos grandes “talvezes” da minha vida.

Ganhei a percepção de que passei mais minha vida sem ela do que com ela e ainda assim sinto uma falta tremenda suas “vozices”.

Não, meu caro leitor, isso não é uma crônica póstuma à minha bisavó Eutília. É uma crônica saudadosa à todas as avós que aqui, no Largo do Rosário, deixaram seus netos e em um grande talvez, não vão voltar.

Ainda estava me encarando no espelho quando percebo que eu cantarolo baixinho a letra da música junto com o coral que parece estar dentro do box. Por um mísero instante volto a ser filho de Maria constituída na imagem de família exemplar. Sacudo a cabeça e tudo se desvai como a água que desce pelo ralo do pia.

A televisão apaga e volta a ser espelho. Mas, por trás de toda a pele coberta por pelos e acnes, eu enxergo a criança de bochechas gordas, boca pequena e franja loira nos olhos.

E, num grande talvez, é isso que eu ainda quero ser. Tudo muda nesta vida, com exceção do Largo do Rosário. Mas, será que ele não percebe que é incômodo nos trazer todas estas lembranças à tona, sem mais nem menos?

De todas as coisas que o Largo do Rosário poderia ser, ele optou em ser a saudade daquilo que nunca acabou e nem foi embora. Assim como todos os seus moradores que não deixam de existir. Isso super me favorece, afinal tenho medo do tempo que gera esquecimento… Não quero ser esquecido!

Mas como nasci, fui criado e ainda me faço neste bairro, sempre haverá alguém que sentirá minha falta sem mesmo me conhecer.

E por fim, a viagem neurótica para escrever esta crônica acaba com o jato de água fria vindo do chuveiro e o silêncio do coral vindo do Largo do Rosário, o Grande Talvez de Carangola.

 

MEUS OITO ANOS

Cassimiro de AbreuOh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d’amor!
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minhã irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus
— Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
— Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!


Logado como . Log out » Deixe seu comentário!

  • usuario

    MARIA DE FATIMA MAXIMIANO

    7 de outubro de 2014

    NOSSA!.SEM COMENTÁRIOS MENINO.

  • usuario

    Rafael Fava Belúzio

    7 de outubro de 2014

    Bacana a crônica, Renan. Fico feliz com a paternidade literária. Feliz também em ver suas caragoladas… essa “saudade daquilo que nunca acabou e nem foi embora” é muito carangolense, muito Rosário. O Largo do Rosário não é bastante largo para caber nossa aflição.

  • usuario

    Gabriela

    6 de outubro de 2014

    Otima!!!

LEIA TAMBÉM SOBRE

  • Prefeito de Espera Feliz renuncia Uma semana após ter sido empossado em Sessão Solene, o Prefeito de Espera Feliz,...
  • Carangola completa 139 anos Conforme anunciado, a programação do Aniversário de Carangola seria restrita em função da Pandemia...
  • Prefeito divulga novo Secretariado Prefeito e vice-prefeito se reuniram hoje, no gabinete, com a equipe de Secretários, Chefes...

CATEGORIAS

  • Achados e imperdíveis
  • Agitos
  • Cidade
  • Crônicas
  • Cultura
  • Destaque
  • Educação
  • Fotos
  • Imobiliaria campos ribeiro
  • O que comer
  • O que fazer
  • Onde ficar
  • Pessoas e Fatos
  • Política
  • Povo Fala
  • Saúde
  • Túnel do Tempo

PUBLICIDADE

  • parceiros
  • parceiros
  • parceiros
  • imagem
    Baixe nosso aplicativo Plataforma Android.
  • imagem
    Siga no Instagram Confira nossas fotos.
  • imagem
    Curta no Facebook Acompanhe nossas postagens.

JCC - Jornal da Cidade Carangola 2015

nonap