Em 15 de outubro de 2011 por Jana Coimbra
Escolhi começar compartilhando uma publicação postada recentemente (e aqui reeditada e levemente modificada) em minha página pessoal na totalmente excelente rede social Facebook, muito interessante e muito útil, se bem vasculhada e bem utilizada, onde, a propósito, tenho publicado bastante coisa há alguns meses, ora sobre música, ora sobre política, ora sobre qualquer futilidade cotidiana, numa extrema ousadia literária, mas nunca pretensiosa, é prec iso frisar. Reconheço minhas limitações, mas também minha cara-de-pau. Catarei outras publicações de lá eventualmente para compartilhar no JC On Line, na esperança de poder expandir os horizontes da minha chatice cotidiana compartilhada na rede.
Então é o seguinte: vou desabafar meu protesto parco e abafado contra o trabalho chato e nocivo do mega-pop-star-teen-entediante Justin Drew Bieber, este canadense bonitinho de dezessete anos que andou dando as graças em terras tupiniquins recentemente num dos braços latino-americanos de sua turnê “My World”. Com todo respeito aos fãs, devo explicar o imbróglio.
É possível – e mesmo necessário – manter o respeito à opinião de outrem, suas escolhas, suas crenças, sua cultura. É também imprescindível saber reconhecer e procurar as virtudes – ainda que muito implícitas – qualquer que seja o objeto de análise, ainda que não faça parte do seu gosto pessoal, seja qual for a área. Sim, temos que respeitar, senhoras e senhores.
Musicalmente falando tenho um gosto variado, mas não generalizado. Ainda assim, neste campo, tento sempre perceber o contexto do trabalho, a história que o precede, a qualidade técnica da execução, o profissionalismo envolvido no processo. Quase sempre é possível reconhecer certos detalhes que, se não mudam seu gosto, no mínimo mantém suas críticas sob controle, na parte azul do ponteiro.
Respeito, por exemplo, os ditos sertanejos universitários ou as baianagens micareteiras, quase sempre pela qualidade técnica específica dos profissionais que se apresentam. Assim também os pseudo-pagodeiros, que conseguem enriquecer enganando tanta gente fazendo nada mais do que cópias grosseiras e mal acabadas da verdadeira fonte: o samba de raiz, riquíssimo e vasto de artistas notáveis. Ao menos reverenciam um segmento de muita qualidade da música popular brasileira, de infinitos talentos, embora os “Salgadinhos” da vida insistam em compor letras insossas, usem visuais cafonérrimos e façam arranjos quase sempre idênticos entre si. Até os “bondes” do funk, mesmo os de conteúdo erótico apelativo, eu sou capaz de respeitar, reconhecendo que o trabalho tem um contexto social. Acredito que este tipo de manifestação proveniente das comunidades miseráveis de nossas grandes cidades sejam fruto de uma série problemas sociais que criaram uma geração desprovida de educação decente e condições de vida dignas.
E por aí vai.
Entretanto sofro com sucessos inexplicáveis, de exemplos cada vez mais tenebrosos, aqui o Brasil ou lá fora. Tento não ser implicante, mas me rôo de ressentimentos ancestrais quando assisto atônito o terror pop totalmente sem sal de Justin Bieber, cuja carreira pasteurizada e pretensiosamente planejada assola ultimamente as mentes infanto-juvenis (na melhor das hipóteses, só essas) mundo afora.
Como não perceber, tendo um mínimo de bom senso, a total falta de qualidade do trabalho deste adolescente chato e metido?
Vejamos: nada de novidade em suas músicas, meras cópias de si mesmas e de obras de outros artistas pop-adolescentes tão chatos quanto.
Nada de expressivo em sua relação com o público: carisma zero. Videozinhos picaretas com momentos do cotidiano do rapaz acessados incansavelmente por milhões de fãs no “Youtube” comprovam que até a vida pessoal dele é sem graça. Em entrevistas coletivas ou pessoais, é nulo e sem charme, beirando o antipático, fato muito importante e, ao que parece, ignorado pelos fãs abobalhados.
Ao vivo, a coisa toda é uma catástrofe. Bieber tem uma voz pueril e mal impostada. Dubla a maior parte do tempo, embora isso nem seja muita novidade. Em alguns momentos das performances ao vivo, até o mega-mito Michael Jackson fazia isso, e também a imbatível Madonna, que ainda faz.
Justin dança muito mal; tem que comer muito angu para chegar aos pés de – de novo o exemplo – Michael Jackson, de quem Bieber é fã confesso, ou do xará Justin Timberlake, cujo talento apresenta eventualmente um conteúdo pop bem razoável. As firulas e as pompas tecnológicas dos shows de Bieber também não tem nada demais. Duplas sertanejo-universitárias em início de carreira no Brasil, até mesmo em shows montados em pequenas cidades do interior apresentam espetáculos visuais mais convincentes, mais elaborados e, portanto, mais atraentes. Neste quesito o também chato mas extremamente profissional e esperto Luan Santana põe Bieber no seu bolso gordo e fashion.
Quanto às suas composições tediosas e medíocres – cujas autorias são um mistério, há quem diga que ele compõe algumas, há quem diga que existem produtores por trás das composições – não perco nem o tempo de publicar trechos, como tenho o hábito, seja para elogiar ou descer o sarrafo. Deixo a cargo da imaginação e da curiosidade dos amigos e amigas, já recomendando que o tempo perdido com isso terá sido ao final muito mal aplicado.
E não bastasse tudo isso, a banda chata que o acompanha nas turnês é tão insossa que parece também “dublar” os instrumentos, se é que não o fazem. Performances entediantes num teatrinho muito mal ajambrado.
Agora, o que assusta mesmo é ver um bando de adolescentes e – absurdo! – suas respectivas mães, chorando ridiculamente no Engenhão na platéia de um espetáculo decadente que a Globo deveria se envergonhar de ter exibido no último dia 12 de outubro. As crianças mereciam programação melhor ou, no mínimo, menos nociva por parte da Vênus platinada.
Queridas crianças, Justin Bieber estraga a percepção de vocês para o que tem qualidade. Amados pais, Justin Bieber estraga a perceção de seus filhos para o que tem qualidade.
E antes que os caríssimos leitores passem a se perguntar porque diabos estou perdendo o meu valioso tempo lendo tanta coisa sobre Justin Bieber, e antes disso, porque diabos este colunista estaria perdendo seu valioso tempo escrevendo tanta coisa sobre Justin Bieber, saibam: trata-se de um serviço de utilidade pública. Ou ao menos aspira tal intenção.
Se fosse possível e não fosse perigosamente incorreto implantar uma censura de bom senso neste país, Justin Bieber e seu trabalho teriam que ser banidos, com proibição da rádio-difusão e execução pública.
O problema, lógico, admito, sou eu e minha chatice, e não os milhares de fãs boquiabertos e descerebrados que consomem esse tipo de porcaria. E como bom chato que sou, devo exercer meu direito de pentelhar e apontar o dedo-duro na cara da falta de qualidade. Danem-se os botões.
Go home, Justin Bieber, go home! Sem ressentimentos, sem mágoas, numa boa. Volte para o seu lar, vá se empaturrar de McLanche Feliz em terras canadenses ou onde queira. Já temos lixo pop o bastante por aqui.
Ah, já foi? Então foi tarde.
gilda elisa
16 de outubro de 2011
Parabéns “Manominero” ! CRÕNICA IMPECÁVEL !
Concordo com a colega Hélen Queriroz, tua escrita tem ritmo,consistência e estilo!
Estilo que simplesmente e confetes a parte:ADORO !Afora este toque elegantemente
irônico que aprecio muito em ti. Fico sempre muito feliz em lê-lo, acho-te um privilégio!
Carinho fraterno/namastê!
Eliana Arruda Mattos
15 de outubro de 2011
Merchied, que tatento, curti demais a sua crônica. Precisamos de pessoas que exponham seus pensamentos, pois tenho certeza que muitos queriam poder manifestar, mas por falta de espaço, intelecto e medo, acabam ocultando os seus pensamentos e, fico pensando… “o que será dessa geração “. Parabéns Merchid, você falou tudo.
ludimila beviláqua
15 de outubro de 2011
afffff, companheiro! que desabafo providencial! bacana também é enxergar pelo olhar do músico toda a angústia pelo maltrato com acordes, notas, melodias…fonocríticas! já esperava por sua verve e já a sabia assim, numa espécie de genética morfossintática…semântica! rsrsrssrsrs claro que adorei, claro que vou compartilhar e recomendar na citada rede! grande entrada com o pé esquerdo! que venham muitas outras! estou no aguardo!
Hélen Queiroz
15 de outubro de 2011
Chid, a crônica está perfeita!!! Concordo, obviamente, com tudo q vc escreveu sobre esse “pobre menino rico”, mas quero parabenizar, especialmente, pela tessitura da crônica. Sua escrita tem ritmo, consistência e estilo! Na verdade, isso eu já sabia, porém adorei lê-lo no espaço virtual do JC. Parabéns, meu querido!
jussara
15 de outubro de 2011
Faço minha as suas palavras se assim me permitir meu caro amigo… Onde vamos parar ? Olha o que é oferecido aos nossos jovens, nada acrescenta ou melhor faz uma lavagem cerebral nas pequenas mentes em processo de conhecimento, ou seja, em apuração e afinação do gosto. EU CURTÍ MUITO SUA CRONICA !!!!!
Bjão, jussara
Rita de Oliveira Almeida
15 de outubro de 2011
Parabéns, Merchid, pelo texto irretocável que, certamente, vai ao encontro das cabeças pensantes. Parabéns também ao Jornal da Cidade (leia-se Jana) pelo acertadíssimo convite ao nosso modesto intelectual Merchid Millen.
Abraços
Rita de Oliveira Almeida
Elaine
15 de outubro de 2011
Voce verbalizou os meus sentimentos! Insosso, sem expressao, pre-fabricado. E deprimente ver os nossos adolescentes se descabelando por conta desse atraso musical. Uma pobreza intelectual. Onde estao os nossos idolos? Qual e o espelho desses jovens? E nao venha me falar que sempre foi assim.