Em 30 de maio de 2015 por Rafael Fava Belúzio
Ilustração: Paulo Bevilacqua
Dentro do quarto, fico olhando, através do vidro, o céu noturno. Fico brincando de observar, ao mesmo tempo, os riscos do vidro e os riscos das constelações.
A linguagem da natureza é a linguagem matemática da poesia.
Entre a quântica e a relatividade geral, hiato? binomia? síntese?
Dentro do quarto, cansei da vida ao rés-do-chão…
Um Princípio de Louis de Broglie que não gera comportamentos autoexcludentes, tampouco exclui outros comportamentos possíveis. Ser, ao mesmo tempo, partícula & onda, física & poesia.
Um elétron que se comporta não como ou partícula, ou onda, mas um elétron particulonda, sendo que, na verdade, o que varia é a capacidade de observação. Mas isso é especulação! É muito contraditório! vão dizer os físicos… E o fundamento do universo não… seria, e não seria, a contradição?
Dentro do quarto, entre o espelho e a lâmpada. Espelhos partidos têm muito mais lâmpadas?
O axioma supremo: não há axioma supremo. O princípio de onde tudo deriva: a ausência do princípio. A certeza: a dúvida.
A incompletude de Gödel, a incerteza de Heisenberg… e, sem ter dúvidas, concordo com Pirro.
Da minha janela, não vejo o beco, nem o homem no mar… Sentado no chão, eu ligo as estrelas, pinguinhos brilhantes luzindo no vidro.
Quinquilharia de cosmogonia…
Veio com a noite o grande Céu, ao redor da Terra, desejando amor, sobrepairou e se estendeu a tudo. Oculto em tocaia, o cronista, de inteligência angulosa, filho da Terra e do Céu, ceifou o pai e quantos salpicos respingaram sanguíneos: a todos recebeu a Terra, pálida de susto, pálida de tanto, fecundada de fragmentos…