Em 1 de setembro de 2015 por Rafael Fava Belúzio
Da janela lateral do quarto de dormir, o que eu vejo é o beco.
É o mesmo beco desde a minha infância: comprido, espremido entre duas casas. Acontece que a infância já não é a mesma. Cumprida. Acontece que as casas já não são as mesmas. Os muros cresceram.
Cresceram também os muros das outras casas do quarteirão. Mudaram mais pessoas aqui pra perto, ficaram cada vez menos pessoas quentando sol nas calçadas. Há mais vizinhos e menos vizinhança. Quase não se conversa nas portas. Estas portas agora são portões, cadeados, grades.
Na calçada que fica na frente do beco, aumentou o comércio. Aumentou o número de carros estacionados. Aumentou o volume de fios sobre a rua.
E agora, enquanto termino a crônica e chego até a janela para olhar o beco, vejo que as luzes estão apagadas. Escuto uma música extremamente alta de uma igreja vizinha e sinto o cheiro intenso da maconha vinda de algum outro apartamento.