Em 20 de outubro de 2010 por Elaine Azevedo
Depois de tantos anos vivendo na cidade onde nasci uma inquietação foi tomando conta dos meus dias. Sempre gostei de Carangola, lugar aconchegante, ruas falantes, carros sem pressa, as escolas onde estudei as crianças e seu afetuoso “tia Elaine”. A casa da mãe, agora tão solitária casa do pai, e a cachorra sempre a me esperar com o rabo balançando de alegria. As grandes e companheiras amigas, o brinde da sexta-feira na Polar (reunião de muitas risadas). O almoço de domingo no Tênis e as crianças gastando alegremente a sua infância a beira da piscina.
Essas e tantas outras delícias que a “nossa” terra propicia é o colo que faz falta nos dias em que a solidão se instala. Mas enfim, chegou a hora de partir. Outras histórias, novas pessoas, experiências diferentes, cidade estranha, carros atropelando o tempo sempre corrido. A casa que não é minha, escola nova, rostos alegres e gentis, aprendizagem, nova fase. Ando depressa por caminhos ainda estranhos.
Deixei de ser “tia”, sou a nova professora. Não há mais cumprimentos na calçada, não há mais rodinha na esquina e papo no meio da rua. O café a tardinha esfriou, o almoço segue sempre diferente. Novo rumo que a vida me levou. Por enquanto sou apenas a recente passageira entre tantas que se aventuram por aqui.
Mas a novidade traz brilho aos olhos, dá vontade de conhecer, amplia o horizonte. Novos lugares, idéias, gente diferente. Possibilidade de ver o sonho sair das noites e ganhar forma, ficar palpável.
Hoje circundando a lagoa para chegar a escola, fiquei pensando como o meu dia a dia se modificou. Olhei para aquela grande extensão de água parada a mercê de uma brisa para dar-lhe movimento, e percebi que as vezes ficamos assim: só nos movemos quando um vento nos empurra. Ainda não havia caminhado por ali, um silêncio somente interrompido pelos aviões que sobrevoam a cidade denominada de Santa.
Decerto, a cidade com a qual compartilho os meus dias, jamais será igual a minha. Andando pelo centro, ninguém me conhece. Entro no banco, vou ao salão, compro uma havaiana, um vaso de flores e pedrinhas para o novo peixinho que assiste às minhas aulas. Nenhuma paradinha, alguns educados cumprimentos de bom dia, e ficamos por aí. Nos olhos dos passantes, a certeza de que sou apenas uma desconhecida.
Saudades dos meus dias? Claro que sim! Mas uma falta boa, talvez pela compreensão de que tudo está sendo como deveria ser, além de saber que estarei sempre por lá. Chegarei diferente, mas não na mineiridade, estou descobrindo como Minas é capaz de ser muitas, e a nossa Carangola é sem dúvida um pedaço muito charmoso, ocupado por pessoas singulares.
Abraços apertados e muita conversa arquivada me esperarão em todas as visitas, ou melhor, voltas, pois não visitamos a nossa casa. Falta dos amigos? Muita! Mas seria egoísmo não desejar conhecer outros, e eles bem sabem o quanto os admiro. Agora só deixaremos de nos ver sem data e hora marcada. Pensando bem, tudo na vida é assim, chega um momento em que as separações são inevitáveis.
Estou mais feliz, mais dona dos meus desejos, mais solta no mundo. Descobri que o novo é desafiante em todos os sentidos. Te instiga, te convida a rever as suas próprias vivências. Mais que isso, te revela caminhos que para serem realmente desvendados são necessárias muitas e muitas voltas na lagoa.
Elaine Azevedo
Lagoa Santa – verão de 2006
Amaro Bento Vaz Filho
20 de outubro de 2010
Senti-me personagem de seu texto. Desculpe-me pela “roubadinha” do espaço. Que audade instigante de tudo isso, até mesmo de Lagoa Santa.
Parabéns