Em 3 de maio de 2012 por Jana Coimbra
Sempre me inspirei nessa frase de Da Vinci, pois meus pais buscam sempre me ensinar que a simplicidade, tida por muitos como uma fraqueza, é uma virtude que demonstra grandiosidade de espírito, consciência do essencial e sutileza. Mas infelizmente, hoje a frase me mostra uma realidade dura: viver de forma simples e em proximidade com a natureza é privilégio de poucos, de uma minoria sofisticada. Em uma metrópole, comer de forma saudável todos os dias, consumir alimentos frescos, praticar esportes, poder nadar em dias de extremo calor… é privilegio, para os poucos com renda suficiente. Rios foram poluídos e destruídos em prol de “progresso” e maior conforto. O calor no verão é de matar a não ser que se tenha dinheiro pra pagar um clube ou morar na praia, ao ganhar conforto se perde qualidade de vida. Comprar em um “sacolão” ou almoçar nos restaurantes de comida saudável é muito mais caro do que fazer refeições em um Mcdonalds e comprar enlatados… O sanduiche natural custa sempre mais que a coxinha, o suco natural mais que o refrigerante. Praticar esportes ao ar livre sai muito mais caro do que fazer musculação, há uma academia fechada em cada esquina por preços variados, enquanto quadras e piscinas se concentram em bairros ricos, prédios e condomínios.
Fui criada no interior, com pomares e fazenda, quando me mudei para Belo Horizonte me pareceu estranho pagar caro pelo selo “Organicos”, ovos e frango “free range chicken” e carne de “ boi-verde”. Me acostumei a comer frutas direto da árvore, pegar as verduras na horta, ver as vacas pastando livres. Assistia assustada meu avô cortar o pescoço da galinha que saia correndo sem cabeça e depois acompanhava o processo de preparo ate ir pra panela (e quando pronto catava o fígado, o coração e a moela que não vem nos frangos de supermercado e viraram surpresinha). Eu pegava os ovos no ninho e deixava sempre um, porque vovó me ensinou que se ficar sem nenhum ovinho a mamãe galinha fica triste e não põe mais. Entretanto, tendo em vista a falta de respeito aos animais nas granjas e matadouros, e a quantidade absurda de agrotóxicos e transgênicos, para garantir uma super produção, suficiente para abastecer o mercado das grandes cidades por preços baixos, me parece justo o valor elevado que tais produtos tem, e o aumento crescente de Vegetarianos e Vegans na sociedade. Fico indignada com a falta de grandes áreas verdes para se estender uma toalha e fazer um pic nic, o parque municipal de Belo Horizonte e a maioria das praças pela cidade (como na maioria das cidades brasileiras que conheço) são concreto puro, e recentemente virou caso de policia invadir o gramado. Se gasta muito com concreto, em prol de uma “melhoria”, “modernização”, para cobrir o verde, o natural, que é o que se necessita e se busca hoje. É preciso ter dinheiro pra se chegar perto da natureza, os programas antes depreciados como “programa de índio”, hoje são os mais caros e procurados. A tendência dos jovens ricos agora é o turismo de aventura, o eco turismo, a busca pelas belezas naturais. A forma “primitiva” de relação com a natureza dos índios, que por não se relacionarem com a Terra de forma gananciosa foram subjugados e considerados inferiores, recebeu um nome da moda, “sustentabilidade”, o que mostra que eles sempre souberam como viver, só mais de 500 anos depois começamos a aprender com eles.
Durante muito tempo, o objetivo de vida da maioria das pessoas era acumular bens, viver confortavelmente e elegantemente, comprar todos os eletrodomésticos do mercado para não ter que se ocupar com afazeres domésticos, ser bem-sucedido consistia em ter um emprego bem remunerado, mesmo que estressante, numa grandes cidade. Hoje se trabalha muito para ter a chance de viver em uma pequena casa, cheia de plantas, poder realizar cada simples coisa pessoalmente e com amor, passar tempo com os filhos e ter tranquilidade. Muitos acreditam que criar bem os filhos é prepara-los para um mundo competitivo, que a passagem no vestibular significa que se alcançou o sucesso em sua educação, que um curriculum “ideal” garante realização profissional. Assim, as escolas e cursos focados em aprovação no vestibular se tornaram os mais caros e procurados. Felizmente, vejo uma valorização crescente de escolas com uma pedagogia comprometida com princípios éticos, que ensina a cooperação, propõe uma infância sem cobrança, incentiva a imaginação e criatividade, valoriza as artes não apenas os números… Como as de pedagogia “Waldorf”, que crescem cada vez mais e cuja mensalidade é compreensivelmente alta. A busca por uma educação real, que molda indivíduos preparados para a vida, já que hoje todos reconhecem que um bom desenvolvimento emocional e cognitivo é mais eficaz do que qualquer curriculum para se alcançar a realização profissional e pessoal.
Eu poderia escrever mais muitas paginas sobre tudo o que me dói e me falta em uma grande cidade e no estilo de vida majoritário do mundo atualmente. Hoje é caro e difícil viver de forma simples curtindo o que costumava ser e deveria ainda ser fácil e barato. Comprar produtos de empresas éticas e ecológicas como os certificados como “fair trade” é para poucos, ter liberdade e segurança é luxo de quem mora em regiões privilegiadas, reciclar o lixo se torna uma odisseia e andar de bicicleta é quase uma tentativa de suicídio. Me pergunto se essa inversão de valores é um mal necessário e temporário, para nos ensinar a dar valor ao que considerávamos garantido, nos punir por essa conduta e nos fazer voltar aos trilhos. Ou se é mais uma condição imposta pelo sistema econômico, pois sabem que os que amam e reconhecem o valor de coisas simples, essenciais e éticas, pagarão o que for e farão o que tiver ao seu alcance para viver de forma digna e com qualidade. Entretanto, me anima perceber que as pessoas estão começando a buscar uma nova forma de convivência cidadã, em harmonia com a natureza para viver bem, só nessa busca pela simplicidade (por mais custosa e árdua que possa ser) podemos recuperar a dignidade humana. Não se trata de um sonho regressivo e negação da tecnologia e praticidade atuais, mas o objetivo de usufruir de confortos conforme pautas éticas, e não excludentes.
ps: um agradecimento carinhoso a meu avô Decinho e avó Luisa que me propiciaram uma infância lúdica e saudável na fazenda, me mostraram de onde vinham meus alimentos, o primeiro vaga-lume e o primeiro Arco-Íris.
Laura Quick
Elaine Azevedo
23 de maio de 2012
A simplicidade virou luxo. A inversão de valores é assustadora! Pagamos mais por querer ser mais saudável e menos insensível. Pagamos caro pelo desejo de ser mais livres. Durante muito tempo desejamos apenas a praticidade. Hoje trocamos as sacolas plásticas pelas. retornáveis. A vida é um ciclo e nos dá sempre a chance de reencontrar o caminho. Desejo que a simplicidade esteja no coração de todos. Que bonito ver a menina que presenteei com o primeiro vestido no nascimento, ter se tornado tão grandiosa e tão simples ao ,esmo tempo. Beijos no seu coração.
Elaine Azevedo
23 de maio de 2012
A simplicidade virou luxo. A inversão de valores é assustadora! Pagamos mais por querer ser mais saudável e menos insensível. Pagamos caro pelo desejo de ser mais livres. Durante muito tempo desejamos apenas a praticidade. Hoje trocamos as sacolas plásticas pelas. retornáveis. A vida é um ciclo e nos dá sempre a chance de reencontrar o caminho. Desejo que a simplicidade esteja no coração de todos. Que bonito ver a menina que presenteei com o primeiro vestido no nascimento, ter se tornado tão grandiosa e tão simples ao ,esmo tempo. Beijos no seu coração.
Gustavo
15 de maio de 2012
Uma das leituras mais inteligentes que já tive, maravilhoso.
Gustavo
15 de maio de 2012
Uma das leituras mais inteligentes que já tive, maravilhoso.
Luiz Cláudio
9 de maio de 2012
Laura, muito bom texto. Você lembra aos leitores que boas palavras fazem a diferença. Saber unir letras, formar palavras ganha através de você sentido com o contorno do coração. O medo perde terreno diante a articulação amorosa de suas palavras. Seu texto é escrito com o coração. Original e atual. Concordo com você: podemos ser simples, descomplicar a vida. Perceber de forma crítica o que é bom e ruim. A simplicidade é viver com os sentidos aguçados. Existem pessoas que passam pela vida e outras que vivem a vida. Você vive a vida. Percebe o valor da vida. A beleza que está no mundo está refletida nas suas palavras que fazem bem. Meus parabéns e que você continue sempre buscando essa harmonia com a natureza. Que sua luz continue brilhando. Você continue escrevendo fazendo esta leitura criítica do mundo. A leitura de suas palavras questionadoras tem “ânima”. Suas boas palavras abrem caminhos para que realmente possamos construir um mundo com mais justiça ambiental com dignidade, qualidade de vida para todos.
Luiz Cláudio
9 de maio de 2012
Laura, muito bom texto. Você lembra aos leitores que boas palavras fazem a diferença. Saber unir letras, formar palavras ganha através de você sentido com o contorno do coração. O medo perde terreno diante a articulação amorosa de suas palavras. Seu texto é escrito com o coração. Original e atual. Concordo com você: podemos ser simples, descomplicar a vida. Perceber de forma crítica o que é bom e ruim. A simplicidade é viver com os sentidos aguçados. Existem pessoas que passam pela vida e outras que vivem a vida. Você vive a vida. Percebe o valor da vida. A beleza que está no mundo está refletida nas suas palavras que fazem bem. Meus parabéns e que você continue sempre buscando essa harmonia com a natureza. Que sua luz continue brilhando. Você continue escrevendo fazendo esta leitura criítica do mundo. A leitura de suas palavras questionadoras tem “ânima”. Suas boas palavras abrem caminhos para que realmente possamos construir um mundo com mais justiça ambiental com dignidade, qualidade de vida para todos.
Rita de Oliveira Almeida
8 de maio de 2012
Laura, é muito bom ver que aquela menina linda que você foi, deu lugar a uma mulher mais interessante ainda. Inteligente, antenada, consciente, informada e, no fundo, simples, como deve ser. Parabéns!
Rita de Oliveira Almeida
8 de maio de 2012
Laura, é muito bom ver que aquela menina linda que você foi, deu lugar a uma mulher mais interessante ainda. Inteligente, antenada, consciente, informada e, no fundo, simples, como deve ser. Parabéns!
Tia Roseane
5 de maio de 2012
Parabéns querida Laura!
Texto atual e antenado.
Obs. : Fiquei imaginando a cena da galinha anencéfala corredora. Tragicômico!
Tia Roseane
5 de maio de 2012
Parabéns querida Laura!
Texto atual e antenado.
Obs. : Fiquei imaginando a cena da galinha anencéfala corredora. Tragicômico!
MARIA INÊS TONA PEÇANHA
5 de maio de 2012
Parabéns Laura, belo texto!!! Parabéns também pra você Ludi, que, com seu talento, transforma comentário em poesia!!!
MARIA INÊS TONA PEÇANHA
5 de maio de 2012
Parabéns Laura, belo texto!!! Parabéns também pra você Ludi, que, com seu talento, transforma comentário em poesia!!!
ludimila
3 de maio de 2012
A sofisticação da Laura sempre esteve na sua simplicidade. Falo isso, por sabê-la simples e por reconhecer e admirar sua invejável sofisticação. Laura é assim como suas palavras: questionadora, reflexiva, leve e intensa. É fácil se acostumar com a Laura, assim como é fácil se acostumar com o que é bom. Ela é assim: orgânica, lúdica,harmônica,moderna.É uma menina-leitora, que sempre me encantava com as histórias de suas baleias… E é como estou hoje, sentindo formigar de encantamento a sua presença literária.
ludimila
3 de maio de 2012
A sofisticação da Laura sempre esteve na sua simplicidade. Falo isso, por sabê-la simples e por reconhecer e admirar sua invejável sofisticação. Laura é assim como suas palavras: questionadora, reflexiva, leve e intensa. É fácil se acostumar com a Laura, assim como é fácil se acostumar com o que é bom. Ela é assim: orgânica, lúdica,harmônica,moderna.É uma menina-leitora, que sempre me encantava com as histórias de suas baleias… E é como estou hoje, sentindo formigar de encantamento a sua presença literária.