Em 29 de janeiro de 2012 por Elaine Azevedo
Quem me conhece sabe que eu aprecio muito a sétima arte. O cinema seduz, encanta, alimenta a alma e os sonhos. Sentar no escurinho do cinema e assistir a um bom roteiro é um prazer sem igual! A história, o elenco, as músicas, a paisagem, a fotografia e o modo como a câmera é direcionada nos emociona, nos tira risos e lágrimas, mesmo sem nos darmos conta de que esses sentimentos estavam adormecidos dentro da gente.
Conheço pessoas que assistem a filmes para chorar. Conheço outras que assistem a filmes para rir, e ainda outras que gostam de ver filmes para viajar. Eu vou ao cinema e às vezes uma película retira de mim todas essas sensações de uma só vez. Embevecida pela história, por muitas vezes quis ter em minhas mãos um controle para dar STOP e voltar às cenas que mais me sensibilizaram. Por isso existem filmes que tenho que ver novamente. Às vezes a minha memória se confunde e volto para casa sem me lembrar do que foi dito por determinado personagem, justo aquela fala, que naquele momento fez diferença na minha vida. Sei que temos DVDS e BLU-RAYS, mas não é a mesma coisa. O que sentimos na poltrona do cinema é totalmente diferente. É o encantamento da hora! É a atmosfera romântica da sala escura, é a grandiosidade da tela. Tudo isso nos deixa ávidos, temerosos, estupefatos, irados, sensíveis e solitários, sentimentos que dependem muito do enredo e do olhar do diretor.
O cinema espanhol sempre me chamou a atenção. Sendo que Almodóvar foi o primeiro a me guiar por este caminho e é claro que alguns filmes já vi mais de uma vez. Recentemente assisti a A Pele Que Habito e fui para casa com esta história na cabeça e confesso que até hoje penso nela. As produções dos nossos hermanos argentinos e suas parcerias também merecem destaque. Carlos Saura e seu Tango, O Segredo Dos Seus Olhos de Juan José Campanella, Elsa & Fred de Marcos Carnevale, Valentin de Alejandre Agresti e Daniel Burman em Ninho Vazio são alguns filmes que me vem à memória. Roteiros destacados por sua direção, atores e pela beleza contida nos pequenos detalhes. Histórias que retratam o universo pequeno, íntimo, familiar, com seus desejos, dores, alegrias e conflitos.
Em meio a tantas estreias no cinema, uma ou outra me escapam. “Tempo, tempo, tempo, tempo…”, mas sempre corro atrás do prejuízo. No tempo desfrutável das férias, o cinema é privilegiado na minha agenda. Foi nessa deliciosa rotina que assisti a Um Conto Chinês, roteiro e direção de Sebastián Borensztein, mais uma produção argentina de muito bom gosto. O roteiro chama atenção por ser centralizado nas histórias absurdas que acontecem durante a nossa vida. Não é um romance, não é um drama, não é uma comédia, não é uma história banal. Não pense você que vá assistir a um filme simples. No título consta a palavra conto. Segundo o meu amigo Houaiss, conto é uma história curta em prosa, com um só conflito e ação, e o clímax do Conto Chinês está no conflito que vai junto com a gente para casa: qual é o sentido da vida?
Intitulado como comédia dramática, o longa tem como protagonista o já conhecido ator Ricardo Darín, maravilhoso em O Segredo Dos Seus Olhos e queridinho das telonas argentinas. No papel de um sisudo vendedor de pregos, porcas e afins, Roberto nunca soube enroscar as peças principais da sua vida. Solitário e veterano da guerra das Malvinas passa o dia resmungando palavrões e amontoando, em sua casa e em sua vida, a amargura do passado. Cheio de muitas manias, o público vai achar graça do seu tipo, mas vai se encantar com o seu encontro casual e atrapalhado com um chinês, também solitário e perdido em Buenos Aires. Não espere ver belas fotografias, mas aguarde a beleza e a profundidade das cenas. O longa tem empatia, sensibilidade e uma história absurda de boa! Para quem gosta do gênero, recomendo a indagação: a vida tem ou não tem sentido? Os noventa e seis minutos do filme roubarão a sua atenção e os fatos narrados farão você pensar nessa questão que permeia a nossa vida inteira.
Elaine Azevedo
11 de janeiro de 2012