Em 5 de setembro de 2014 por Jana Coimbra
Em Carangola, a estação das flores antecipa sua chegada e dá um colorido diferente na cidade atraindo olhares, exalando essências originais da mãe natureza, inspirando amigos e amantes, sugerindo recortar da natureza sua beleza viva para as jarras de flor e movendo dentro do peito uma esperança nova, viva, colorida, verde, jovem, forte, que parece chegar para ficar…
Uma esperança que não tem como escapar do balanço forte dos ventos que insistem em roubar o ritmo de sua dança, mas entende que é preciso resistir às tempestades e ao fogo que destrói o verde-esperança entranhado de suas matas, na tentativa de querer arruinar de vez com a Tribo dona desse Vale erguido com bravura, trabalho, honestidade e fé.
Ainda que as queimadas se misturem ou se contraponham ao colorido da primavera que se aproxima, ainda que alguns, na contra mão história, derrubem ou mascarem casarões que retratam toda uma história de época e espigões subam, desordenadamente, descaracterizando uma arquitetura centenária, bonita, querida e histórica que merece ser preservada, as raízes dessa Tribo resistirão corajosamente e sempre em estado de alerta para que “nenhuma flor seja roubada, nenhuma flor seja pisada, nenhum cão seja morto” e nenhum aventureiro se atreva a arrancar a voz, a prosa, o verso e a poesia dessa Tribo e nem a descolorir o colorido da primavera, do verão, do outono e do inverno desse Vale.
Corajosamente e sempre em estado de alerta para que nenhum aventureiro se atreva a calar nenhuma voz, como alerta MaiaKóvski nesse seu poema:
No Caminho
Na primeira noite eles se aproximam
E roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores, matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer mais nada.